quinta-feira, 16 de julho de 2009

Um vanguardista medieval




Se eu pudesse ser um pouco mais completo
Abrir mão desse futuro incerto
A ponto de sorrir sutilmente à vida,
Sem temor e sem receio...
Pois a glória, eu digo
Tiraria do silêncio
Dos atos dos meus covardes
E nunca da eminência de grandes feitos
Pois a graça é a do errado
O mundo é o do pecado
E roda louca do destino
Torna as coisas,
Deveras mais interessantes

Pudestes eu, ter a graça do mundo
Fazendo sorrir os que não podem
Fazendo chorar os que já não “mordem”
Tendo como feito todo ato sublime e um céu azul
Ah, se o ato
Esse que, aqui dito e lamentado
Estivestes em minhas mãos,
Mas não, esse não...

Eu
Tão como os meus semelhantes
Nessa dança sem arranjos
Num concerto desconcertante
Sou tolo
Sou bobo
Isento de tanta pureza
Sou moco
Sou pouco
Para um mundo tão vasto
De tamanha essência
E incessível natureza
E fúria... E fúria...

Alguns dirão que é desconexo
Que a ira é dos Deuses
Que sou inconseqüente e imaturo
Mas trago no papel um nome nobre
Ao qual eu honro
Diferente do veredicto inoportuno
Daqueles que tem a mim,
Uma chance de cravar o punhal
Pondo fim à elegia
Ao coro bonito
Ao recital...
Pois de boas palavras não vive o povo
De boas ideias não alimentam
Nem encorajam
O que séculos dá-se por morto:
A coragem dos indecisos.
Dos filhos do meu caminho
Dos homens aos quais
A poesia há de clamar.

No dia em que a nuvem chora
Um poeta sem cabeça vai embora
Um rei sem fronteira nos esnoba
E ele, o salvador dos inocentes
Desbravador de deliquentes
Fará do legado que deixei
Uma festa interminável
Abundante e estridente
Aos quatro cantos do mundo.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Uma peça qualquer para um novo diretor





"Primeiro, gostaria de dizer-lhes que tudo o que aprenderam até agora, é uma tremenda babaquice. É teoria infame. É demagogia. É tese de algum ator fracassado, que se julga pai do espetáculo, em busca de notícia. Em busca de ascensão...
Eu quero falar de arte. Arte simples e nem por isso menos sublime que quaquer outra. É suave nas palavras. Mas não são menos importantes por não necessitarem de uma retórica eloquente, pois não são donas de total informalidade e pobresa poética, muito pelo contrário. Estas palavras não trabalham sozinhas, vem acompanhadas de gestos, vem acompanhada de ações, vem acompanhada, contudo, de emoção.
Uma emoção completamente singular. Somos donos da comoção. Fazemos sorrir, fazemos chorar, “fazemos” pelo simples prazer em fazer sem esperar que as grandes manifestações em terceiros ocorram, por mais que sejam devidamente provocadas. Quebramos o tabu entre o mágico e o voluntário. Fazemos de todo circo e seus espaços, uma homogeneidade inquestionável.
Voltamos aos séculos passados, permitindo esaltar o cheiro de roupa velha, o ar do trânsito de charretes, dos chapéus, das perucas. Damos asas a imaginação, mas não permitimos que essa vague sozinha, apresentamos uma direção. Damos a eles os fatos que precisam, eles só direcionam as ideias. Estamos a dispor.

Somos completos ao mesmo tempo que somos repletos... De música. De gritos. De luz. De uma euforia sadia. Aplausos. Repito, aplausos. É a melodia que nos completa. Acompanhada de lágrimas ou por dentes brilhantes amostra. Quem sabe os dois. Damos uma aula de história, damos lição de moral, damos bons e maus exemplos. Não estamos distantes de nossos apreciadores através de uma tela de vidro... Pois nós, caros amigos, somos o Teatro! Fazemos tudo, digo tudo, em prol da arte, sem demais pretensões. Para que assim não fiquemos expostos ao risco de romper com o prazer incesável de atuar.

De agora em diante, nós não precisaremos de chão de mármore ou de madeira nobre, palco de 3 metros de altura, cortinas deslumbrantes, camarim, cadeiras almofadadas...
Nós só precisamos de vontade, coragem e público. Não somos uma companhia famosa, não somos personalidades famosas, não somos dinheiro, não somos investimento, nem incentivo governamental, somos teatro, tão somente o teatro. A nossa alma é humilde e o que a alimenta é o espetáculo. Se for preciso tomaremos ruas, praças e calçadas, a fim de proclamar o nosso projeto. Cantaremos, dançaremos cativaremos todos com a arte popular. Nossas vestes serão nossos próprios figurinos. E o cenário é o que estiver ao nosso redor. Faremos da luz do poste uma obra prima e da calçada um altar. Não se esqueçam que a nossa imcumbência, é a de dispertar sensações.

...Isso é tudo. Organizam-se, separem os papeis. Ainda hoje, o ensaio começará".