sexta-feira, 10 de julho de 2009

Uma peça qualquer para um novo diretor





"Primeiro, gostaria de dizer-lhes que tudo o que aprenderam até agora, é uma tremenda babaquice. É teoria infame. É demagogia. É tese de algum ator fracassado, que se julga pai do espetáculo, em busca de notícia. Em busca de ascensão...
Eu quero falar de arte. Arte simples e nem por isso menos sublime que quaquer outra. É suave nas palavras. Mas não são menos importantes por não necessitarem de uma retórica eloquente, pois não são donas de total informalidade e pobresa poética, muito pelo contrário. Estas palavras não trabalham sozinhas, vem acompanhadas de gestos, vem acompanhada de ações, vem acompanhada, contudo, de emoção.
Uma emoção completamente singular. Somos donos da comoção. Fazemos sorrir, fazemos chorar, “fazemos” pelo simples prazer em fazer sem esperar que as grandes manifestações em terceiros ocorram, por mais que sejam devidamente provocadas. Quebramos o tabu entre o mágico e o voluntário. Fazemos de todo circo e seus espaços, uma homogeneidade inquestionável.
Voltamos aos séculos passados, permitindo esaltar o cheiro de roupa velha, o ar do trânsito de charretes, dos chapéus, das perucas. Damos asas a imaginação, mas não permitimos que essa vague sozinha, apresentamos uma direção. Damos a eles os fatos que precisam, eles só direcionam as ideias. Estamos a dispor.

Somos completos ao mesmo tempo que somos repletos... De música. De gritos. De luz. De uma euforia sadia. Aplausos. Repito, aplausos. É a melodia que nos completa. Acompanhada de lágrimas ou por dentes brilhantes amostra. Quem sabe os dois. Damos uma aula de história, damos lição de moral, damos bons e maus exemplos. Não estamos distantes de nossos apreciadores através de uma tela de vidro... Pois nós, caros amigos, somos o Teatro! Fazemos tudo, digo tudo, em prol da arte, sem demais pretensões. Para que assim não fiquemos expostos ao risco de romper com o prazer incesável de atuar.

De agora em diante, nós não precisaremos de chão de mármore ou de madeira nobre, palco de 3 metros de altura, cortinas deslumbrantes, camarim, cadeiras almofadadas...
Nós só precisamos de vontade, coragem e público. Não somos uma companhia famosa, não somos personalidades famosas, não somos dinheiro, não somos investimento, nem incentivo governamental, somos teatro, tão somente o teatro. A nossa alma é humilde e o que a alimenta é o espetáculo. Se for preciso tomaremos ruas, praças e calçadas, a fim de proclamar o nosso projeto. Cantaremos, dançaremos cativaremos todos com a arte popular. Nossas vestes serão nossos próprios figurinos. E o cenário é o que estiver ao nosso redor. Faremos da luz do poste uma obra prima e da calçada um altar. Não se esqueçam que a nossa imcumbência, é a de dispertar sensações.

...Isso é tudo. Organizam-se, separem os papeis. Ainda hoje, o ensaio começará".